A flora nativa há milhares de anos interagindo com o ambiente, passou por diversos tipos de evoluções e processos de seleção natural gerando espécies adaptadas a diversos ecossistemas terrestres (Saravy et. al., 2003).
A evolução dos frutos é caracterizada como um destes processos (Haven et al., 2001), pois é um aspecto fundamental das irradiações evolutivas das angiospermas, que ocorreram devido à adaptação ao seu agente dispersor. De acordo com Ricklefs (1996), o tipo e espécie de dispersor dependem do tamanho, da estrutura e da cor do fruto e sua posição na árvore.
Encontramos frutos com espinhos, ganchos e outras excrescências que facilmente aderem aos corpos dos animais ou apresentam-se plumosos ou leves, o que vem, então, facilitar o seu transporte, em virtude do vento (Vidal & Vidal, 2007).
Segundo Souza (2003), os frutos podem ser disseminados ou dispersos naturalmente, assegurando, dessa forma, que as plantas ocupem locais diferentes do ambiente da planta-mãe. A disseminação de frutos pode ser feita por agentes bióticos (animais) ou abióticos (vento e água). De acordo com esses agentes, podem ser distinguidos vários tipos de disseminação ou dispersão:
1) DISSEMINAÇÃO ZOÓCORA: a disseminação é feita por animais, sob várias formas:
Epizoócora (epi = acima, na superficie) - quando os frutos são dispersos aderidos ao corpo do animal; neste caso, eles desenvolvem estruturas como tricomas ou emergências, que secretam substância pegajosa, ou têm formato de ganchos ou espinhos. São exemplos os frutos de Bidens pilosa (picão-preto), Acanthospermum hispidum (carrapicho-de-carneiro), etc;
Endozoócora (endo = dentro) - quando os frutos são ingeridos por animais, atravessam seu sistema digestório e são eliminados nas suas fezes, sem alteração do poder germinativo das sementes. Os frutos múltiplos de espécies de Fícus (figueiras) são comidos por morcegos ou pássaros, que depositam os frutéolos nos troncos de outras plantas, onde eles germinam.
Diszoócora - quando os frutos são procurados por pássaros ou formigas, como alimento, e alguns não são destruídos por esses animais, podendo vir a germinar. Incluem-se aqui as cariopses das espécies de Gramineae transportadas e logo abandonadas.
Foto tirada por Roney Rodrigues.
2) DISSEMINAÇÃO ANEMÓCORA:
A disseminação dos frutos é feita pelo vento. Os frutos assim dispersos possuem estruturas aliformes (asa ou ala), que aumentam sua superfície e facilitam sua disseminação. Os frutos de Asteraceae apresentam o cálice persistente da flor (pappus), que facilita sua dispersão. São exemplos os frutos de
Gallesia integrifólia (pau-d’alho),
Balfourodendron riedelianum (pau-marfim), etc.
3) DISSEMINACÃO HIDRÓCORA:
A disseminação dos frutos é feita pela água. É comum nos frutos dispersos pela água o desenvolvimento de tecido aerífero, que diminui o peso especifico, permitindo sua flutuação. Registra-se disseminação hidrócora para Inga uruguensis (ingá ou ingá-banana), uma espécie que ocorre predominantemente nas margens de rios. O ar acumulado no parênquima frouxo do mesocarpo e entre os pêlos unicelulares longos da testada semente (polpa) deve facilitar a flutuação desse fruto na água.
Inga uruguensis (ingá ou ingá-banana).
Fontes:
HAVEN, P.H.; EVERT, R.F.; EICHHORN, S.E. Biologia Vegetal. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p.522-527.
RICKLEFS. R.E. A Economia da Natureza. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. p.274–275.
SARAVY, F. P.; FREITAS, P. J.; LAGE, M. A.; LEITE, S. J.; BRAGA, L. F.; SOUSA, M.P. Síndrome de dispersão em estratos arbóreos em um fragmento de floresta ombrófila aberta e densa em alta floresta. Revista do Programa de Ciências Agro-Ambientais, 2003. p. 12.
SOUZA, L. A. Morfologia e anatomia vegetal: célula, tecidos, órgãos e plântulas. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2003. 259p.il.
VIDAL, W. N.; VIDAL, M. R. R. Botânica – organografia: quadros sinóticos ilustrados de fanerógamos – 4ª Ed. Viçosa: Editora UFV, 2007.124p. il.